sexta-feira, julho 07, 2017

e perguntava: sentes ? então respondia: e o que é que deveria sentir ? a carne por dentro da pele, o barulho do esforço dos músculos carregando sangue, excremento, fluido, um sem fim de trabalho das vísceras pra que você esteja vivo, caminhante, falante, útil? não, a nuance de tudo isso, os espaços, os vazios, os conjuntos, os formatos, os silêncios entre os esforços, a potência transformadora do tubo, o eu dentro que é consequência do infinito fora, isso que é denso, completo, errante, queima dissolve espalha expulsa e repete. isso que é cíclico moldável e finito, o corpo. sentes?


se entreolhavam. sentia, sim, mas diferente. sentia embaixo, regionalmente, isso que na mulher chamamos de região do útero, no homem é o que? períneo, ânus, genital, sentia sim, sentia como imã, era magnético e pulsava. mais quando pensavam um no outro, mais ainda quando se encostavam. sentia quando se penetravam, e iam além. além disso que tentamos significar com textos, disso que buscamos pontuar nas palavras. sentiam invisível, sentiam microscopicamente, ou nem isso, algo que não se toca, mas parece tão palpável que o desejo se transfigura em pensamento que se transforma em sentimento e disso gesto, disso encontro, de tudo isso, toque. sentia como nunca, talvez porque o sentir é coisa construída, projetamos o sentir? e aí teorias, propostas, escrituras, e dentro barragem, pedregulho caminho limite e medo. medo do que, perguntava-se, e a si mesmo respondia: medo do que não explicamos. medo de tudo, então? medo daquilo que nem as letras nem as palavras nem as frases nem os textos ou livros nem mesmo os estudiosos nem religiosos explicam. medo do invisível metabólico bioquímico do dentro. que quando fora, você.

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