quinta-feira, novembro 29, 2007



"Não é o LSD que provoca o bode, foi a tua mãe, o teu presidente, a vizinha do lado, o sorveteiro de mãos sujas, um curso de álgebra e espanhol simultâneos, o fedor de uma latrina em 1926, um sujeito narigudo quando te disseram que todo narigudo é horrendo; foi o purgante, a brigada Abraham Lincoln, os bolinhos açucarados, Mutt & Jeff, a cara de Franklin Delano Roosevelt, os drops de limão, trabalhar numa fábrica dez anos e ser despedido por um atraso de cinco minutos, a megera que te ensinou História da América no 6º ano, o teu cachorro atropelado sem que ninguém depois te explicasse a coisa direito, uma lista de 30 páginas de extensão e três quilômetros de altura."

domingo, julho 01, 2007

Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta?
Vamo brincá de teta de azu lde berimbaude doutora em letras?
E de luar?
Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel?
Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho?
E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei para que seja leve meu passo em vosso caminho.*
Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista?
Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.

segunda-feira, março 19, 2007

Se pudesse seduzir a morte, lamber-lhe as axilas, os pêlos pretos, babar no seu umbigo, enturpir-lhe as narinas de hálitos melosos, e dizer-lhe: sou eu, gança, sou eu, mariposa, sou Karl, esse que há de te chupar eternamente a borboleta se tu lhe permitires longa vida na olorosa quirica do planeta.




Ciao, irmanita. *

quinta-feira, março 08, 2007

(Do livro "Os Cadernos de Cozinha de Leonardo da Vinci", que foi também cozinheiro, no final do século XV

Nenhum convidado deverá sentar em cima da mesa, nem de costas nem sobre a roupa de outro convidado.
Não deverá botar sua perna em cima da mesa.
Não porá sua cabeça no prato para comer.
Não pegará a comida de seu vizinho sem antes pedir licença.
Não porá pedaços mastigados de sua própria comida no prato de seu vizinho sem primeiro perguntar a ele.
Não limpará sua faca na roupa do vizinho.
Não porá comida da mesa em seu bolso nem em sua bota para comer depois.
Não beliscará nem baterá em seu vizinho.
Não fará cara feia nem girará os olhos.
Não conspirará à mesa (a não ser que o faça com Meu Senhor.)
Não fará aos pajens do Meu Senhor sugestões luxuriosas nem brincará com seus corpos.
Não soltará seus pássaros na mesa.
Assim como tampouco escaravelhos ou víboras.
Não baterá nos serviçais (só pode fazê-lo em caso de sua própria defesa).
Deverá abandonar a mesa se está para vomitar.

domingo, março 04, 2007

ele se virou e me disse _ a lua está tão linda,deve ser pelo eclipse tragou o cigarro soltou a fumaça tirou o cabelo dos olhos cruzou as pernas levantou a barra da calça desculpou-se por ser tudo tão óbvio eu lhe disse que a culpa não era nossa ele discordou se levantou aumentou o som resmungou que a próxima música é linda e eu tirei o meu vestido me enconstei no vaso de flores brancas artificiais escutei a porta se abrir e algazarra de umas cinco pessoas suspirei de cansaço fechei os olhos eles atiraram uma almofada no pássaro ele caiu assustado,quebraram uma de suas asas ele estava desesperado gritando com voz de pássaro eu não me mexi eles não se incomodaram tentaram me acordar eu me mantive calada eles desistiram acenderam uma droga elogiaram a droga eu suspirei de cansaço eu gostaria de dormir alguém quebrou uma garrafa alguém rasgou uma página senti o coração torcer,era uma página de biblia,sorri aliviada. um sorriso calado,escondido. acordei o sol despertava aguardei enquanto ele despreguiçava,ele sorriu um sorriso raiando em meus olhos eu disse tudo bem está tudo bem,ela me contou que estão todos carecas eu contei que estaria também careca ela não acreditou me jurou um tanto de amor eu fiquei sorridente meu coração sempre pulsa eu sorri para o trocador ele devolveu o meu troco ele sorriu um sorriso distante,repetitivo. eu não liguei,procurei um banco vazio tinha uma dona gorda na janela de olhos tristes e batom vermelho de sandálias pretas e pés cansados de bolsa velha de roupa usada,suada,surrada. encontrei uma foto antiga num porta-retrato sem graça de uma época passada. devolvi em seu lugar na cômoda descascada, andei uns passos peguei um livro 'lugar comum' gostei do título me joguei na cama de lençois floridos esquecidos mofados,não me importou. abri uma página qualquer e li em voz alta tirando os sapatos :
Tanto a dizer
ou nada
melhor calar
tanto a ouvir.

Por mais que veja
ao deitar
da luz
não sinto mais.

Quantas línguas
percorridas
por nada...

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

'para fazer um poema dadaísta:
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.'

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Certa loucura anda muitas vezes de braço dado com a poesia.
É tão difícil as pessoas razoáveis se tornarem poetas quanto os poetas se tornarem razoáveis !


15:29