sexta-feira, setembro 29, 2006

A morte era tão chata. Isso era o pior sobre a morte. Era chata. Assim que acontecia, não se podia fazer nada. Não se podia jogar tênis com ela nem transformá-la numa caixa de bombons. Estava ali,como um pneu furado. A morte era estúpida.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Tudo me interessa e nada me prende.Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei.Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra,ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito.

sábado, setembro 02, 2006

_Você gosta de Júpiter?
_Gosto.Na verdade

"desejaria viver em Júpiter
onde as almas são puras
e a transa é outra."*

_Que é isso?
_Um poema dum menino que vai morrer.
_Como é que você sabe?
_Em fevereiro.Ele vai se matar em fevereiro.
_Hein?

silêncio.

_Você tem um cigarro?
_Estou tentando parar de fumar.
_Eu também.Mas queria uma coisa nas mãos agora.
_Você têm uma coisa nas mãos agora.
_Eu?
_Eu.

silêncio.